Blog resgata fotos raras e histórias de musas da pornochanchada
Rafael Spaca, 33, ainda era criança quando filmes da pornochanchada já eram reprisados durante a madrugada na TV aberta.
Apesar da pouca idade, a partir dessas sessões que ele via escondido dos pais, o paulistano ficou fascinado por atrizes como Nicole Puzzi.
O interesse por essas musas da década de 1970 fez com que ele desenvolvesse uma pesquisa sobre a Boca do Lixo –área na região central de São Paulo que entre os anos 1960 e 1980 foi um dos polos de produção cinematográfica mais importantes do Brasil.
Musas da Boca do Lixo
Ver em tamanho maior »A atriz Zilda Mayo, uma das homenageadas na série "5 Musas da Boca"
"A Boca do Lixo foi algo que me formou como público de cinema", conta Spaca. "Hoje, passo na rua do Triunfo (onde as produtoras se concentravam) e imagino como eram as coisas ali há 40 anos."
A série "5 Estrelas da Boca", que tem sido publicada no blog Os Curtos Filmes, já homenageou Nicole Puzzi, Eni Helena Novakoski, Zilda Mayo e Vanessa Alves.
Os relatos das atrizes são, em sua maioria, curtos. Mas é possível ler declarações muito pessoais de algumas delas sobre o período da Boca do Lixo.
"Hoje sinto muita falta da minha carreira e triste pelo passado que eu não soube aproveitar devido a minha imaturidade", escreve Eni Helena Novakoski, que hoje é professora de inglês e mora no Paraná.
No mês de julho, a atriz Noelle Pine, que estrelou filmes como "Perdida em Sodoma", "Paraíso da Sacanagem" e "Meu Primeiro Amante", terá seu acervo publicado on-line, fechando a série.
Leia entrevista com o criador do projeto abaixo:
sãopaulo - Por que decidiu procurar as atrizes da Boca do Lixo?
Rafael Spaca - É uma homenagem a elas. No começo do cinema nacional, os chamarizes dos filmes eram nomes como Grande Otelo e Oscarito. A partir da Boca do Lixo, as atrizes passaram a ter mais destaques e a atrair o público para o cinema. Também é uma homenagem à mulher. Observando as fotos, você vê que o padrão de beleza mudou. As fotos dessas cinco atrizes mostram que, naquela época, não havia cirurgia plástica, botox ou barriga negativa. Eram mulheres naturais que encantavam o público. O espectador via mulheres na tela que poderiam ser suas vizinhas, com um padrão de beleza possível. Hoje há um padrão de beleza absurdo.
Como foi o contato com elas?
Levei muito "não". Algumas atrizes acharam que não seria bacana dividir suas histórias. Outras ficaram lisonjeadas. A ideia era que elas abrissem seus álbuns pessoais e contassem suas histórias, do jeito que viesse à cabeça.
Na sua opinião, qual a importância da Boca do Lixo para o cinema nacional?
Apesar de haver esse olhar enviesado sobre o uso do corpo, essas são atrizes que tiveram muita determinação, que ajudaram muitos cineastas e alavancaram uma indústria. A Boca do Lixo, a partir dos anos 1970, quando começou a pornochanchada, era movimentada por essas mulheres. As produções, incluindo roteiros, eram pensadas a partir das escolhas das atrizes.
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